Salve Nossa Senhora da Conceição Aparecida
A pregação da Cruz é uma necessidade para os que se perdem; mas para os que se salvam - para nós - é força de Deus. Por que diz a Escritura:
Destruirei a sabedoria dos sábios, e inutilizarei a inteligência dos inteligentes. Onde está o sábio? Onde o douto? Onde o sofista deste mundo? De fato, como o mundo através de sua própria sabedoria não conheceu Deus na divina sabedoria, quis Deus salvar os crentes através da necessidade da pregação.
Assim, enquanto os judeus pedem sinais e os gregos buscam sabedoria, nós pregamos a Cristo crucificado: escândalo para os judeus e loucura para os pagãos, mas para os chamados, tanto judeus quanto gregos, um Cristo, força de Deus e sabedoria de Deus.
As palavras do apóstolo Paulo, lidas na solenidade da Exaltação da veneranda e santificadora Cruz, marcam o sentido inequívoco que, desde o princípio, tivera para os cristãos o patíbulo dos malfeitores, que era a cruz. Por que, pois, estranhar-se que a Igreja a tenha considerado objeto de culto particular?
Romano o Melode, imaginando um diálogo entre o diabo e o inferno, põe na boca do primeiro as palavras:
Belial, é tempo de abrires o ouvido. A hora presente far-te-á ver o império da Cruz, e o grande poder do Crucificado. Para ti, a Cruz não é senão loucura; porém toda a Criação a considera como um trono desde que, nela cravado, escuta Cristo como juiz em atividade.
A forma de cruz das igrejas antigas, inclusive hoje nas de tradição bizantina, evoca a virtude ou força da ação redentora desse sinal.
A Cruz defende a todos do maligno e de seus ataques. Os marcados com o sinal de Cristo têm a esperança confiante de entrar no paraíso.
Nas igrejas bizantinas, atrás do altar e no ponto mais alto do Iconostase, destaca-se a Crucifixão, com o objetivo de que, de qualquer ponto do templo e a todo momento, possa atrair o olhar dos fiéis para a Árvore da Vida, plantada no novo paraíso universal, frondosa e muito mais honorável que a do Éden.
De modo que, instruídos sobre a adoração da Cruz, feita de matéria comum, rendamos nossa adoração, não à matéria, mas àquele nela crucificado.
Hoje, mostra-se a Igreja de Cristo como novo paraíso: ao expor o santo madeiro da Cruz, antecipa a Paixão e a Ressurreição.
Salve, ó Cruz, glória do universo!
Salve, ó Cruz, fortaleza da Igreja!
Salve, inexpugnável bastião dos sacerdotes!
Salve, diadema dos reis!
Salve cetro do soberano Criador de todas as coisas!
Salve, ó Cruz, na qual Cristo aceitou padecer e morrer!
Salve, grande consolo dos aflitos, arma invencível no meio da luta!
Salve, Cruz, ornato dos anjos e proteção dos fiéis!
Salve, ó Cruz, pela qual foi o inferno derrotado!
Salve, ó Cruz, pela qual fomos redimidos!
Salve, lenho bem-aventurado! 19
Cirilo de Jerusalém, na XIII Catequese, que se realizara provavelmente em 347, diz textualmente:
A Paixão é real: verdadeiramente foi crucificado. E não nos envergonhemos disso. Foi crucificado. E não o negamos; pelo contrário, comprazemo-nos em afirmá-lo. Chegaria a envergonhar-me, se me atrevesse a negar o Gólgota que temos à vista; afastaria dos olhos o madeiro da Cruz que dessa cidade distribuiu-se como relíquias pelo mundo todo.
Reconheço a Cruz, porque conheço a ressurreição. Se o Crucificado tivesse permanecido em tal situação, não reconheceria a Cruz; apressar-me-ia, pelo contrário, em escondê-la, juntamente com meu Mestre. Como após a Cruz vem a Ressurreição, não me envergonho de falar longamente da mesma.
A festa da Cruz, a 14 de setembro, difundiu-se rapidamente por todo o Oriente, eclipsando a comemoração da dedicação da basílica constantiniana. 25 Em Roma, no século VI, celebrava-se a Exaltação no dia 3 de maio. Posteriormente - no século VII - começou a apresentar-se o madeiro da Cruz à veneração do povo, no dia 14 de setembro. 26
O resgate da Cruz pelo imperador Heráclio em 631 não veio senão incrementar e consolidar um culto já amplamente difundido.
As igrejas de tradição bizantina relacionaram a festa do dia 14 de setembro entre as do Senhor (despotika) - de primeira classe - e, portanto, entre as 12 grandes festividades litúrgicas. É precedida de uma vigília (preortia) e seguida de sete dias pós-festivos (meteortia), mais outro oitavo de despedida da festa (apodosis), que coincide com o dia 21 do referido mês de setembro.
A celebração litúrgica, muito simples em si, tem seu ponto mais alto no gesto do celebrante, que podemos ver refletido no Ícone. Vejamo-lo em detalhes.
No dia da festa, o celebrante, após pequena procissão, pára no centro da igreja; e levanta então, ao alto, a relíquia da Cruz.
A assembléia faz, ao mesmo tempo, a mais simples de todas as orações e mais própria de uma criatura ante a misericórdia do Deus criador: "Piedade, Senhor!" Repete-se 100 vezes a oração.
Repete o celebrante o gesto de elevar ao alto a Cruz, voltando-se para os quatro pontos cardeais, enquanto o povo reza, canta e exclama 100 vezes: "Piedade, Senhor!"
Deposita-se depois a Cruz em um grande recipiente cheio de flores e coloca-se sobre um tetrapodium no centro da igreja. O Clero e todos os fiéis, prostrando-se de joelhos, vão adorando a Cruz e recebendo uma flor das que serviram de enfeite à relíquia.
-----Pax et Bonnum-----
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